Eu estava em paz. Cabeça tranquila. Nenhum problema para
pensar antes de dormir. Limpa. Era bom, só agora eu vejo o quanto era bom. Para
os infernos quem diz “só me arrependo daquilo que não fiz” se eu pudesse voltar
no tempo não teria reparado nos seus olhos, como eu fiz, não teria dado tempo
para dar aquele estalo que me fez só querer olhar você onde quer que você
estivesse.
Se eu pudesse voltar no tempo não tenha dúvidas de que faria
tudo diferente. Não ignoraria todos os instintos que me disseram que com você
seria diferente. Teria desviado dos beijos. Me livrado do jeito preciso com que
você segurava em meu cabelo. Teria me safo de cravar as unhas com força no
lençol para tentar aliviar o que você fazia comigo e consequentemente me
safaria de pensar que só você era capaz disso. Teria me poupado das brigas e
desconfianças. E as reconciliações também seriam apagadas, porque não daria
para você o poder de me colocar lá em cima para depois me fazer chocar tão
forte com o asfalto a ponto de sentir todos meus ossos estilhaçados no chão da
realidade.
Em vez disso eu fiz tudo errado. Eu deixei que você me
beijasse e que me arrepiasse dos pés à cabeça com seu gosto de perdição. Te
deixei me contaminar com seu cheiro que me levava a loucura enquanto você
roçava a barba por fazer em meu rosto. Te deixei me contagiar com toda a
loucura que você dizia sentir por mim. Te deixei me levar para onde você
quisesse, que eu te seguiria, você sabe que eu seguiria.
A culpa é toda minha. Se eu mal consigo respirar sem lembrar
de você a culpa é toda minha. Coloquei na sua mão a chave da minha vida e você
só queria se perder e me perder. Foi minha culpa quando tentei te entender um
milhão de vezes. Quando tentei justificar suas atitudes erradas. Quando tentava
resistir por mim e por você. Quando eu comprei uma briga por você, mas o seu
medo sempre foi de mim. A culpa foi
minha desde que eu abri a porta para você naquela sexta feira de agosto. Que
desgosto.